"MENTES CRIATIVAS SÃO CONHECIDAS POR RESISTIREM A TODO TIPO DE MAUS TRATOS."
SIGMUND FREUD

sábado, 22 de outubro de 2011

CONSTRUINDO A SUBJETIVIDADE


Os textos, “Complexidade, Transdisciplinaridade e construção de subjetividade” e “Os intelectuais e o poder”, trazem em comum a reflexão sobre o poder. Um poder que constrói a subjetividade e ao mesmo tempo é construída por ela. A leitura dos textos nos leva a repensar a idéia de “conceito”, a partir dos quais, são produzidas “verdades” teóricas usadas para explicar a realidade e construir práticas rígidas totalizadoras.
 De acordo com Deleuse & Guattari, autores do primeiro texto, conceito não deve ser definido como essência nem como a descrição de um estado de coisa e sim como ‘cartografia de circunstância’. Esses autores problematizam a questão da prática clínica, propondo uma nova operação, a de transversalização, revendo conceitos como, subjetividade, problema, objeto e suas teorias pré estabelecidas que pretendem dar conta dessas questões a partir de “verdades teóricas” atravessadas pelo poder. A proposta da clínica transdisciplinar é de uma clínica que se constrói no encontro com o sujeito, disposta a mudança de rota, a construção da subjetividade e de novas questões.
Foucault & Deleuse, autores do segundo texto, enfocam sua reflexão neste poder propriamente dito. Segundo esses autores, não existe teorias que não encontrem obstáculos, mesmo quando aplicadas em seu próprio domínio. É a prática que irá, por meio de outros discursos, transpor os obstáculos. Dessa forma é possível pensar a teoria como uma prática local e não totalizadora. Quem opera totalizações é o poder, a teoria é instrumento contra este. O retrato do poder em sua forma mais pura, arcaica e infantil são as prisões, no entanto, o poder é exercido por várias categorias profissionais, operando como reforço de estruturas de reclusão que resulta numa política global de poder.  O poder é enigmático, ao mesmo tempo visível e invisível. É possível observar quem o detém e o resultado dele, sem que possamos, no entanto, determinar quem de fato o exerce. As pessoas se ligam ao poder sem que haja, aparentemente, interesse nele, porém há investimentos de desejos que explicam onde o desejo coloca o poder: a favor de seus interesses inconscientes. Aliar-se a movimentos revolucionários não significa lutar contra o poder. A luta, segundo Foucault e Deleuse, é uma luta pessoal, a partir da vivência singular de cada sujeito, que assim como os revolucionários reconhecem o alvo e determinam o método da luta, livre de uma verdade teórica.
Uma forma de exemplificar o que os autores chamam de relação de poder, é falar sobre a prática do psicólogo no qual este profissional sempre é colocado no lugar daquele que sabe tudo sobre a mente, o comportamento e o mal que o ser humano sofre. Assim, quando um indivíduo e seu familiar chegam até este profissional, vem com a idéia de cura para qualquer questão existencial que a pessoa possa estar passando e normalmente questiona o psicólogo o que ele tem, por que e como. Portanto, o psicólogo é aquele que detém o poder por ter sabedoria sobre o assunto. O interessante é o profissional entender essa relação e não tratar o indivíduo como marionete e dizer o que é certo ou errado segundo uma teoria. No mesmo contexto, esse profissional também é sujeitado à relação do poder quando a sociedade tem um entendimento prévio sobre como é ser psicólogo e como este age na sociedade. Com isso, se o profissional desta área sai do padrão entendido pela sociedade, é taxado de mau profissional.
Ao fazer a leitura desses textos, o que me veio imediatamente à mente foi o movimento reivindicatório dos bombeiros militares do estado do Rio de Janeiro, talvez pelo fato de estar na corporação há quinze anos e participando ativamente deste movimento desde seu início vejo claramente refletido neste ato as questões abordadas, especialmente no texto “OS INTELECTUAIS E O PODER”. A história do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro (CBMERJ) teve início no ano de 1856 quando o Imperador Dom Pedro II organizou o Corpo Provisório de Bombeiros da Corte. Para tal reuniu sob uma mesma administração as diversas seções que até então existiam para o serviço de extinção de fogo nos Arsenais de Guerra e de Marinha, Repartição de Obras Públicas e Casa de Correção. A criação do Corpo Provisório de Bombeiros da Corte consta do Decreto Imperial 1775, de 02 de julho de 1856.
As pessoas oriundas dessas instituições tinham como principal característica o porte atlético, além da disposição física aliada a uma coragem destacada, porém pouca instrução e alguns até de caráter duvidoso, pois como percebemos parte deles eram provenientes das Casas de Correção. O Material de combate compunha-se basicamente de quatro bombas manuais, algumas escadas, baldes de lona, mangueiras e cordas, ou seja, as características físicas eram as mais privilegiadas do que os atributos intelectuais.
Durante muitos anos o CBMERJ manteve em suas fileiras Bombeiros Militares (BMs) que carregavam sobre seus ombros o estigma de seus predecessores, mas com a modernização dos equipamentos utilizados para as atividades desempenhadas por estes profissionais, os atributos físicos foram ficando cada vez mais desvalorizados, dando lugar aos aspectos intelectuais. Essa exigência trouxe consigo uma desvantagem muito grande para as esferas superiores, os que detinham o poder, pois estes não perceberam essa mudança gradual na tropa, que passou a produzir seu próprio saber e a desenvolver sua subjetividade.
Essa construção e desenvolvimento da subjetividade culminaram no que Foucault de “ação revolucionária”, que foi o início do movimento chamado de SOS BOMBEIROS RJ, pois as questões apresentadas são legitimamente provenientes da tropa.
Usando novamente as palavras de Foucault que diz que os intelectuais descobriram recentemente é que as massas não necessitam deles para saber, os BMs do estado do Rio de Janeiro a meu ver era um elefante preso a um barbante.
*TEXTO APRESENTADO NA UNESA RESENDE, AUTORES:
ANA LUIZA M. OLIVEIRA 
CAMILA M. PINHO
DANIEL MATOS

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