"MENTES CRIATIVAS SÃO CONHECIDAS POR RESISTIREM A TODO TIPO DE MAUS TRATOS."
SIGMUND FREUD

quarta-feira, 15 de junho de 2011

SÓ DE SACANAGEM



Meu coração está aos pulos.

Quantas vezes minha esperança

será posta à prova?

Por quantas provas terá ela que passar?

Tudo isso que está aí no ar:

malas, cuecas que voam

entupidas de dinheiro,

do meu dinheiro, do nosso dinheiro,

que reservamos duramente para educar

os meninos mais pobres que nós, pra cuidar

gratuitamente da saúde deles

e dos seus pais.

Esse dinheiro viaja

na bagagem da impunidade

e eu não posso mais.

Quantas vezes meu amigo, meu rapaz,

minha confiança vai ser posta à prova?

Quantas vezes minha esperança

vai esperar no cais?

É certo que tempos difíceis

existem pra aperfeiçoar o aprendiz.

Mas não é certo que a mentira

dos maus brasileiros

venha quebrar no nosso nariz.

Meu coração está no escuro,

a luz é simples,

regada ao conselho simples

de meu pai, minha mãe, minha avó

e os justos que os precederam:

”Não roubarás,

devolva o lápis do coleguinha,

esse apontador não é seu, minha filha”.

Ao invés disso,

tanta coisa nojenta e torpe

tenho tido que escutar.

Até habbeas corpus preventivo

Coisa da qual nunca tinha ouvido falar

E sobre a qual minha pobre lógica ainda insiste

Esse é o tipo de benefício que só ao culpado interessará.

Pois bem, se mexeram comigo,

com a velha e fiel fé do meu povo sofrido,

então agora eu vou sacanear:

mais honesta ainda eu vou ficar.

Só de sacanagem.

Dirão: deixa de ser boba. Desde Cabral

que aqui todo mundo rouba.

Eu vou dizer: não importa.

Será esse o meu carnaval.

Vou confiar mais e outra vez.

Eu, meu irmão, meu filho

e meus amigos vamos pagar limpo

a quem a gente deve

e receber limpo do nosso freguês.

Com o tempo a gente consegue

ser livre, ético e o escambau.

Dirão: é inútil, todo mundo aqui é corrupto,

desde o primeiro homem

que veio de Portugal.

E eu direi: não admito.

Minha esperança é imortal.

E eu repito: ouviram? Imortal.

Sei que não dá pra mudar o começo.

Mas, se a gente quiser,

vai dar pra mudar o final.

POEMA DE ELISA LUCINDA, ATRIZ E ESCRITORA.

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